“É importante não começarmos pela IA, mas pelo problema que desejamos resolver, e a IA será parte dessa solução”, diz Sal Khan em evento promovido pela Khan Academy no Brasil

imagem de Sal Khan, fundador da Khan Academy, em um auditório apresentando à um público sobre IA na Educação com Sal Khan. Há uma cortina vermelha e um telão ao centro atrás dele.


Sal Khan no Auditório do Insper, 04 de junho de 2025.

No dia 4 de junho de 2025, o auditório do Insper, em São Paulo, foi palco do evento “IA e Inovação na Educação Pública”, que reuniu especialistas, gestores públicos, educadores e representantes de organizações do setor educacional para discutir os caminhos e desafios da implementação de tecnologias educacionais com foco em Inteligência Artificial.

Sobre o evento

Promovido com apoio da Fundação Lemann, o encontro teve como destaques a participação do fundador da Khan Academy, Salman Khan, a troca de experiências entre redes estaduais de ensino e o lançamento oficial do Khanmigo para Professores, uma nova ferramenta de IA gratuita voltada ao apoio docente.

O primeiro painel do evento, mediado por Guilherme Cintra (Fundação Lemann), reuniu Danilo Yoneshige (Layers Education), Cainã Perri (Khan Academy Brasil), André Filipe de Moraes Batista (Insper) e Bruno Cani (VélezReyes+) para debater os fundamentos necessários para a implementação eficaz de tecnologias educacionais.

Os participantes destacaram que o sucesso da adoção dessas ferramentas exige mais do que conectividade: é preciso garantir uma infraestrutura física adequada, assegurar a qualidade dos dados coletados e, principalmente, estabelecer uma intencionalidade pedagógica clara.

Impacto da tecnologia na educação

A mensagem foi unânime: a tecnologia deve estar a serviço da aprendizagem, sendo integrada a uma estratégia educacional que coloque o estudante no centro e respeite o papel do professor.

No segundo painel, moderado por Cristieni Castilhos (MegaEdu), representantes das secretarias de educação de São Paulo (Renato Feder), Paraná (Roni Miranda) e Ceará (Iane Nobre) compartilharam experiências concretas de uso de tecnologias educacionais em suas redes.

Cada estado apresentou programas em andamento que incluem a Khan Academy como ferramenta de apoio ao ensino, com foco na personalização da aprendizagem e no desenvolvimento de competências.

O debate trouxe à tona a importância do monitoramento contínuo dos programas e da formação dos professores para garantir resultados efetivos. O Secretário de Educação de São Paulo, Renato Feder, ressaltou a importância da estrutura do estado voltada para formação de professores no engajamento da rede no uso de plataformas educacionais.

IA da Khan Academy nas redes brasileiras

O Secretário Roni Miranda destacou a importância do uso qualificado da tecnologia, possível graças à mediação dos professores, e também compartilhou a experiência do Paraná como estado pioneiro na utilização do Khanmigo, tutor de Inteligência Artificial da Khan Academy, ressaltando seu potencial para promover mais equidade e inclusão no ensino público por ser uma poderosa ferramenta para garantir o suporte pedagógico ao aluno a qualquer momento, com qualquer dúvida.

Iane Nobre, Coordenadora de Gestão Pedagógica do Ensino Médio, trouxe em sua fala a importância de um desenho de projeto cuidadoso e a visão do Governo do Estado do Ceará para o uso de tecnologias como suporte de uso voluntário pelas escolas na recomposição de aprendizagens. 

Debates sobre a adoção ética, estratégica e inclusiva da IA nas escolas

imagem de um auditório de ângulo direito mostrando os professores e o criador da Khan, Sal Khan na palestra dada por ele

Após o almoço, o evento seguiu com um painel comandado por Salman Khan, fundador da Khan Academy, e mediado por Sidnei Shibata, diretor executivo da Khan Academy América Latina. Em sua fala, Sal propôs uma reflexão profunda sobre o papel das tecnologias na educação e os caminhos para uma adoção ética, estratégica e inclusiva da Inteligência Artificial nas escolas.

“Quando a tecnologia está se movendo tão rápido, precisamos focar em quais problemas queremos resolver em vez de somente olhar para a tecnologia”, ele ressaltou. “É importante não começarmos pela IA, mas pelo problema que desejamos resolver, e a IA será parte dessa solução.”

Sal apontou as limitações do modelo tradicional de ensino, em que estudantes são agrupados e forçados a avançar no mesmo ritmo, mesmo quando não dominam completamente os conteúdos.

“O que acontece no sistema educacional tradicional em todo o mundo é que os estudantes são agrupados e espera-se que sigam juntos em um ritmo pré-definido. E o que acontece, especialmente em Matemática, é que se um aluno domina apenas 80% de um assunto, ele seguirá adiante, e essas lacunas seguirão se acumulando.”

Nesse contexto, destacou que o papel do tutor em preencher essas lacunas é historicamente reconhecido, mas inviável em escala — um desafio ao qual a Khan Academy se dedicou ao desenvolver o Khanmigo, com apoio da IA. Ele também enfatizou:

“A verdadeira aprendizagem acontece quando estudantes conseguem praticar conceitos que são importantes, recebem feedback imediato e tutores conseguem monitorar, saber onde os estudantes estão e se certificar que eles estão engajados, independentemente do uso de tecnologia.”

E completou: “A IA por si só não melhorará os resultados educacionais, pelo menos não agora. Os resultados melhorarão com estudantes praticando, recebendo feedback e com os professores informados. Mas assim como temos vídeos e artigos para ajudar estudantes com dificuldades, agora vemos a IA como outra camada desse quebra-cabeça.”

A fala de Sal Khan também foi marcada por um alerta importante: “Todos debatem se a IA será boa ou ruim para a humanidade, mas a tecnologia sempre amplifica as intenções da humanidade. (…) Se dissermos que a IA é assustadora e não queremos nada com ela, estaremos deixando uma das tecnologias mais poderosas que a humanidade já teve nas mãos dos agentes negativos — e isso garantirá um futuro ruim. A única opção que temos é focar nos problemas que estamos resolvendo (…) e amplificar intenções positivas com IA. Podemos criar um futuro positivo.”

Encerramento do evento

O evento foi encerrado com um painel sobre experiências internacionais de implementação da Khan Academy, mediado por Luiza Toledo (Instituto Ápis).

Participaram Ana Lígia Scachetti (Nova Escola), Shubhra Mittal (Khan Academy Índia) e Ghislaine Liendo (Khan Academy Peru), que apresentaram as estratégias adotadas em seus países para garantir a efetividade da plataforma em contextos diversos.

No Peru, a parceria com a autoridade educacional de Lima resultou em um processo de certificação de professores que utilizam a plataforma, garantindo que a adoção da Khan Academy conte para a progressão de carreira.

Já na Índia, além do esforço de localização dos conteúdos em múltiplos idiomas, foram desenvolvidas estratégias voltadas à inclusão de meninas nas áreas de STEAM e criado um centro de atendimento telefônico para apoiar os docentes no uso da ferramenta.

Ana Lígia Scachetti compartilhou ainda boas práticas dos professores brasileiros na adoção de tecnologia de maneira simples e eficaz, além das experiências da Nova Escola com IA, como a criação de materiais de apoio para o uso da tecnologia em sala de aula.

Os relatos reforçaram que, apesar das particularidades de cada país, desafios como a infraestrutura e a formação de professores são transversais e demandam soluções articuladas entre diferentes atores.

A mensagem ao final do encontro foi clara: as tecnologias educacionais só terão impacto real se estiverem aliadas a ações formativas, infraestrutura adequada e intencionalidade pedagógica.

Para mais conteúdo da visita de Sal Khan ao Brasil, acesse: 

“Professor continuará no controle”, diz Sal Khan à CNN sobre IA nas escolas

‘O professor é o valor maior’, diz educador americano Sal Khan sobre IA nas escolas

“Tecnologia não faz mágina na educação”, diz fundador da Khan Academy