Como a escola Brophy College Preparatory construiu uma cultura de uso de IA liderada pelos alunos

fundo beg com elementos de cor roxa e mostarda, ao centro dois balões de conversa são o destaque

Uma entrevista com Mica Mulloy, Vice-diretor de Instrução e Inovação da Brophy College Prep, em Phoenix, Arizona – EUA.

Você está à frente do seu tempo quando se trata de integrar a IA nas escolas. Mas eu gostaria de começar pela sua trajetória pessoal. Como você começou a compreender o papel da IA na educação?

Mica Mulloy: Eu nunca me contentei em fazer as coisas do jeito que sempre foram feitas. Minha própria experiência educacional foi boa, mas, quando me tornei professor, ficou claro que podíamos fazer melhor.

Logo no início, mudei minha mesa para o fundo da sala de aula. Pode parecer algo pequeno, mas foi simbólico — eu não queria ser a única fonte de conhecimento. Eu queria que os alunos se tornassem protagonistas do próprio aprendizado.

Quando a IA surgiu, senti que era o próximo passo lógico — não como uma ferramenta brilhante e nova, mas como algo capaz de transformar fundamentalmente a forma como ensinamos e como os alunos aprendem.

Então, para você, a IA não é sobre novidade — é sobre transferir a responsabilidade do aprendizado para os alunos?

Mica: Exatamente. Temos grandes problemas no mundo que ainda não conseguimos resolver. Acredito que a próxima geração precisará de ferramentas e mentalidades diferentes para enfrentá-los.

Parece que esse tipo de transformação está no seu DNA.

Mica: (Risos) Talvez. Eu não sou contra o sistema por natureza, mas acredito que temos a responsabilidade de evoluir. A sala de aula não deveria ser igual à de quando éramos crianças.

Fale mais sobre isso. Como você envolveu os alunos nessa mudança?

Mica: Desde o início, eu sabia que não poderíamos criar uma política de uso de IA sem a participação dos alunos. Então, realizei grupos de discussão com professores, pais e alunos.

Eventualmente, enviei um e-mail convidando estudantes a ajudar a elaborar nossas diretrizes de IA. Oitenta alunos se inscreveram.

Um deles teve uma ideia ousada: e se invertermos a lógica da política? Em vez de “você só pode usar IA se o professor permitir”, seria “você pode usar IA, a menos que o professor diga que não”.

Essa proposta se tornou nossa política.

Isso é uma grande mudança cultural. Como o corpo docente reagiu?

Mica: A transparência foi fundamental. Comunicamos cada etapa do processo. 

Realizei horários abertos para conversa, visitei todos os departamentos e ofereci formação continuada em três níveis — introdutório, intermediário e avançado.

O que mais me impressiona é a quantidade de conversas presenciais que você incluiu nesse processo. É um contraponto poderoso ao medo de que a IA possa enfraquecer as relações humanas.

Mica: Obrigado. Isso é algo de que temos muito orgulho.

Você está percebendo sua visão de “professor como guia” se concretizar entre os docentes?

Mica: Sim, especialmente em relação à autonomia acadêmica. Mesmo antes da IA, adotamos um cronograma em blocos — aulas de 80 minutos — para que professores e alunos tivessem mais tempo para se aprofundar.

Essa é a cultura que temos construído há uma década, e a IA ajudou a acelerá-la.

Está claro que sua escola tem uma base sólida. Mas parece que o verdadeiro segredo é a confiança e a transparência que vocês construíram ao longo do caminho.

Mica: É isso.

“Confiar nos alunos. Confiar nos professores. Ser transparente sobre o que estamos descobrindo juntos.”

Obrigado, Mica. Esse é o tipo de história de liderança que outras pessoas precisam ouvir neste momento.

Mica: É uma honra poder compartilhá-la. Obrigado pela conversa.

Considerações finais

A Brophy College Prep e o Estado do Arizona são parceiros da Khan Academy Redes, trabalhando juntos para ampliar o impacto da aprendizagem em larga escala.